6 Julho - 21h30
2€ - M12
Textos, canções e interpretação de Gisela Cañamero
Acariciar um cão
que, a tiritar, se chega aos teus joelhos, na rua
não chega aos calcanhares
de um único pêlo de um poema de Sophia.
Assim se vê como é grande a Poesia.
Eu esgravato a pequena, muito pequena, pequeníssima
- quase coisa nenhuma: poenhuma.
E é de cócoras, espelhando-nos mutuamente nas retinas
que inalo o verso a verso das nossas narinas.
Sophia e os Animais in Poderia a Poesia, G. Cañamero
Publicados em livro, com design gráfico de Ana Rodrigues (ed. arte pública 2016) os poemas revisitam lugares e memórias da autora, num tempo comum a toda uma geração, mas também reclamam a intervenção sobre o nosso irreal quotidiano:
Com a prática, é possível: habituas-te a contar os tempos onde oscilam os ritmos e cor das palavras - ainda que estejas de esfregona na mão. Olhas através da sujidade baça da vidraça - e há um escaravelho, talvez brilhante, talvez pactuante, que exige a tua desmesurada atenção.
Aplicaste em receber os convidados — mas os diálogos assimilam-se num imprevisível monólogo interno e sonoro, com mais paladar do que o jantar, que jaz inerte e frio - enquanto a tua cabeça aquece.
Este é o meu universo: uma poética autobiografia das pequenas-grandes coisas do quotidiano. Porque, num mundo tão agressor em certezas, faz parte da minha higiene mental cultivar a perplexidade.