No solitário confinamento deu-se um processo criativo particular que reuniu remotamente 20 músicos e colaboradores da Cuca Monga (com membros de Capitão Fausto, Ganso, Luís Severo, Rapaz Ego, Zarco, entre outros). Desse processo, resultaram, em menos de dois meses e da forma mais natural e espontânea, dez canções, que compõem "Cuca Vida", um álbum assinado pelo Conjunto Cuca Monga.
Por ter começado como uma brincadeira, que se manteve despretensiosa durante todo o confinamento, o álbum “Cuca Vida” tem de tudo um pouco tanto no género, na estética e no léxico. Ao mesmo tempo, “Cuca Vida” é um disco que transparece a amizade, risota e liberdade com que foi forjado, e talvez seja esse o tema do disco: não fala sobre estar fechado – pelo contrário – é aberto e livre.
Fala-se de ambiente sonoro, de silêncio e de ruído, de todos os espectros sonoros, do infra ao ultrassom, de frequências e de ritmo. Mas também de ecologia, cidadania, igualdade e políticas urbanas. Da escuta como catalisador para a transformação e dos sons que se inscrevem na vida quotidiana nos nossos lugares. De como a paisagem sonora nos afeta e de como somos, nós mesmos, responsáveis pelo som que geramos.
Org. Associação Culturmais Apoio Câmara Municipal de Beja
Os Três Tristes Tigres nasceram nos idos de 1990, à volta de um gravador de cassetes rasca. Ana Deus vinda dos BAN e Regina Guimarães fabricavam informalmente colagens e canções. Antes da formação que dará origem ao primeiro CD. Os primeiros concertos, no bar Aniki-Bobó (Ana Deus e Paula Sousa ao vivo, Regina Guimarães ao morto) assemelhavam-se a um cabaret pop, entre o poético e o corrosivo. PARTES SENSÍVEIS, de 1993, será o rasto da primeira configuração dos TTT.
Aprofunda-se então a colaboração entre Ana Deus e Alexandre Soares um ex-GNR que entretanto se juntara à banda como músico convidado. Com a alteração do som dessa aventura artística nascerão dois CDs de originais – GUIA ESPIRITUAL (1996) e COMUM (1998) – e uma compilação, VISITA DE ESTUDO, que contém revisitações, algumas distanciadas, de composições anteriores. Além das digressões ligadas à divulgação dos discos, o pequeno planeta TTT produziu objectos de formatos variados, nomeadamente o concerto «Ferida Consentida» (1999, em torno do livro «Um beijo dado mais tarde» de Maria Gabriela Llansol), canções para filmes de Saguenail e de João Canijo.
O grupo reúne-se novamente em 2017 a convite do Teatro Rivoli no Porto, para tocar o álbum “Guia espiritual” que em 1996 juntamente com o prémio “Melhor grupo nacional” para os 3TT foi considerado “Disco do ano” nos prémios, do então Jornal, Blitz.
Juntando-lhe temas do álbum que se seguiu em 1998 “ COMUM “ e com arranjos que aproximam a sua interpretação à visão actual dos músicos, têm tocado regularmente enquanto preparam um novo disco a sair no primeiro trimestre de 2020.
Ana Deus e Alexandre Soares mantêm também até hoje, uma relação de trabalho com projectos ligados ao Cinema Teatro e Dança, e no colectivo “Osso Vaidoso” com 2 álbuns editados em 2011 e fim de 2016, com uma forte componente ligada à poesia e a instrumentação minimal, no essencial baseada em trabalho de guitarra e electrónica. E eis que, em 2020, eles cumprem e regressam com um álbum intemporal onde as guitarras de Alexandre Soares navegam entre a vertente mais crua, eléctrica e acústica espacial; a voz de Ana Deus transporta, de forma livre, os poemas adaptados de William Blake e Langston Hughes, os poemas originais de Regina Guimarães e de Luca Argel para as partes sensíveis, as minorias e as coisas que sussurram. Um disco de rock mais rugido e delirante, contaminado com circuitos electrónicos, e outros temas mais ambientais e lentos.